Para quem não sabe bem Inglês não stress muito porque está depois tudo explicado:
Algures na Sibéria por volta de 1950 um Biólogo foi encarregado de um projecto aparentemente simples. Belyaev estava responsável por tornar as raposas de uma quinta de raposas (para peles) mais mansas. O que Belyaev fez foi começar por fazer selecção artificial.
Ora bem, temos de ter em conta que a Rússia era um país comunista, e Belyaev não era um dos preferidos do partido (acho que quando disse que estava na Sibéria dava para perceber isso). Além do mais havia teorias sobre a natureza ditadas pelo partido. Isto tudo resultava em Belyaev trabalhar com pouco ou nenhum material e pouca ou nenhuma informação sobre genética. Mas a lógica é lógica, e Belyaev começou as suas experiencias com uma ideia.
Ia permitir a reprodução das raposas que fossem menos agressivas, e impedindo a reprodução das mais agressivas ou medrosas. Isto era medido pelo modo como respondiam ao aproximar de um humano (ou da mão com uma luva). Perante um perigo a resposta lógica não é uma, mas um dilema, o “fight or flight”, o lutar ou fugir, a mesma dose de adrenalina pode dar para as duas respostas (dependendo de certas condições), por isso se tentassem atacar ou fugir furiosamente a resposta era tida como idêntica.
E passadas apenas dez gerações algo completamente inesperado aconteceu. Efectivamente as raposas iam sendo cada vez mais mansas, mas dez gerações depois pareciam animais completamente diferentes. A pelagem era diferente, exibindo cores diferentes e até manchas; as orelhas passaram a ser caídas como as dos cães, e como as destes podiam facilmente ficar direitas com atenção; começavam a fazer vocalizações, tipo latidos, algo que as raposas não fazem, só as crias; o seu comportamento era brincalhão, amistoso e até se davam pelo nome; etc.
Isto é algo bastante interessante.
Olhando para isto de um ponto de vista genético há primeira vista há aqui algo errado. Belyaev começou com uma amostragem de uma população selvagem (as raposas da quinta) que por si só era um fundo genético já não representativo de toda a variabilidade dentro da espécie. E em dez gerações foi efectuando selecção artificial. A selecção artificial que efectuou embora permitisse recombinações ia a pouco e pouco empobrecendo o fundo genético com que estava a trabalhar. E então, de um momento para o outro um monte de caracteres novos surgiu… do nada? Isto não faz sentido!
Quer dizer, até faz, se pensarmos de outra maneira. Que genes estaria Belyaev, mesmo não intencionalmente, a seleccionar na sua experiencia? Os relacionados com a Adrenalina. Pode não ser a adrenalina em si, mas algo relacionado com o modo como o gene é lido. E seria algo que afectava a leitura de Adrenalina, Melanina (cor e pelagem) e neurotransmissores que compartilham parte da cadeia de síntese destas proteínas, monoaminas.
Daqui retiram-se várias lições.
A primeira é que a domesticação do cão pode ter sido muito mais rápida, e as características que ele exibe, como as cores e o ladrar podem ser completamente secundárias à selecção que levou ao seu aparecimento.
Outro é que quando dizem que um chimpanzé tem noventa e muitos genes iguais aos nossos isso quer dizer pouco ou nada. Para começar esses dois porcentos são um abismo monstruoso, pois referem-se acima de tudo a genes como este, que controlam o modo como os outros são lidos; e depois existe uma diferença a nível cromossómico bastante interessante.
E temos 50% de ADN partilhado com as bananas e as couves, 60% com a mosca da fruta… Estes valores referem-se acima de tudo aos processos que são necessários à vida; todos os seres vivos aqui nomeados são eucariontes, e como tal têm orgânicos semelhantes e processos metabólicos semelhantes.
Bibliografia (alguma)
PS – O instituto que depois passou a tratar das raposas e a expandir o trabalho e o estudo está com problemas financeiros. Como tal passaram a vender “raposas” (se se pode chamar aquilo raposa… eu não chamo lobo a um cão). Se tiverem oportunidade arranjem uma, pelo bem da ciência! E é verdade, na continuação da decorticação as raposas domésticas perderam aquele cheiro forte de raposa que usam para marcar as coisas, pelo que, agora não cheiram tão mal.
Imagens:
De isto:
Para isto:
(ainda são crias)
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Paz e Sossego
Era suposto ter continuado a actualizar este sítio, e estou com muita pena em não ter conseguido tempo antes.
Entrei em Mestrado de Biologia Aplicada, e estou já no último ano (são dois, mas tive equivalências) o que quer dizer que estou a preparar uma tese.
Se há uns meses me dissessem que ia estar neste projecto a fazer o que estou a fazer, e a gostar, não ia acreditar.
O meu projecto é… Esqueço-me sempre do nome, mas é um nome bem grande. O objectivo é estudar o efeito do aumento da salinidade nas zonas costeiras, por causa do aumento do nível do mar. O meu caso em concreto é em zonas aquáticas, pelo que estou em Toxicologia Aquática (algo aparentado com Ecotoxicologia) que pertence a Ecologia.
E neste momento estou a trabalhar com (e esta é a parte que me parece ainda difícil de acreditar, do género, “como é que isto aconteceu?”) Daphnias.
Ok, se fossem “Daphnia magna” era uma coisa, mas estou a trabalhar com outra, e vou passar a explicar. Na ciência em geral existem padrões, valores de referência e até organismos padrão. No caso de Toxicologia Aquática um dos organismos mais estudados e usados (por tão bem estar estudado) é a “Daphnia magna” para a qual até já existem muitos testes padrão (ou seja, como já se sabe como reagem perante certas concentrações de certos poluentes, é quase só largar umas numa amostra de água e ficar a ver como é que elas lá se dão para se ter uma ideia do que se passa na água). Mas esta daphnia é nativa do sub-continente norte-americano. Recentemente muitos laboratórios têm começado a adaptar estes testes a organismos semelhantes à “Daphnia magna” mas que existam naturalmente na sua área. É sempre complicado e até perigoso estar dependente de espécies exóticas, e logo uma com as características reprodutivas da Daphnia.
Em Portugal existe uma espécie de daphnia, a “Daphnia longispina”. É muito parecida com a magna, excepto que é muito, mas muito mais pequena.
E ainda há mais “problemas”, uma vez que não há valores tabulados de salinidade que a “Daphnia longispina” aguenta, tive de andar eu de volta delas a fazer testes para descobrir esse valor (aproximado). Demorou, sendo que o principal factor é que usei os dados da magna como referencia para os testes. A longispina pode ser mais pequena, mas resiste muito mais ao sal. Resiste muito mais. Resiste assim do género “bolas que há mais de dois meses que não vou a casa porque estou a fazer testes de 48h com daphnias e não tenho ainda resultados de mortalidade”.
Mas agora já está melhor, e embora talvez só vá a casa depois do ano novo (agora são os testes de 12 dias) tenho mais tempo livre.
Ok, fora isto há muito movimento no mundo da ciência que tenho de aqui colocar. E são duas da manhã
Entrei em Mestrado de Biologia Aplicada, e estou já no último ano (são dois, mas tive equivalências) o que quer dizer que estou a preparar uma tese.
Se há uns meses me dissessem que ia estar neste projecto a fazer o que estou a fazer, e a gostar, não ia acreditar.
O meu projecto é… Esqueço-me sempre do nome, mas é um nome bem grande. O objectivo é estudar o efeito do aumento da salinidade nas zonas costeiras, por causa do aumento do nível do mar. O meu caso em concreto é em zonas aquáticas, pelo que estou em Toxicologia Aquática (algo aparentado com Ecotoxicologia) que pertence a Ecologia.
E neste momento estou a trabalhar com (e esta é a parte que me parece ainda difícil de acreditar, do género, “como é que isto aconteceu?”) Daphnias.
Ok, se fossem “Daphnia magna” era uma coisa, mas estou a trabalhar com outra, e vou passar a explicar. Na ciência em geral existem padrões, valores de referência e até organismos padrão. No caso de Toxicologia Aquática um dos organismos mais estudados e usados (por tão bem estar estudado) é a “Daphnia magna” para a qual até já existem muitos testes padrão (ou seja, como já se sabe como reagem perante certas concentrações de certos poluentes, é quase só largar umas numa amostra de água e ficar a ver como é que elas lá se dão para se ter uma ideia do que se passa na água). Mas esta daphnia é nativa do sub-continente norte-americano. Recentemente muitos laboratórios têm começado a adaptar estes testes a organismos semelhantes à “Daphnia magna” mas que existam naturalmente na sua área. É sempre complicado e até perigoso estar dependente de espécies exóticas, e logo uma com as características reprodutivas da Daphnia.
Em Portugal existe uma espécie de daphnia, a “Daphnia longispina”. É muito parecida com a magna, excepto que é muito, mas muito mais pequena.
E ainda há mais “problemas”, uma vez que não há valores tabulados de salinidade que a “Daphnia longispina” aguenta, tive de andar eu de volta delas a fazer testes para descobrir esse valor (aproximado). Demorou, sendo que o principal factor é que usei os dados da magna como referencia para os testes. A longispina pode ser mais pequena, mas resiste muito mais ao sal. Resiste muito mais. Resiste assim do género “bolas que há mais de dois meses que não vou a casa porque estou a fazer testes de 48h com daphnias e não tenho ainda resultados de mortalidade”.
Mas agora já está melhor, e embora talvez só vá a casa depois do ano novo (agora são os testes de 12 dias) tenho mais tempo livre.
Ok, fora isto há muito movimento no mundo da ciência que tenho de aqui colocar. E são duas da manhã
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